o respiro
do olhar

Diariamente, mais de 1,5 milhão de pessoas circulam pelo Hipercentro de Belo Horizonte. Apressadas, preocupadas com o horário da consulta médica, os problemas no escritório ou os dramas familiares cotidianos, elas enfrentam um ambiente hostil no coração da capital mineira: excesso de carros, ônibus lotados, fumaça, barulho de buzinas, prédios envelhecidos e decadentes e calçadas mal conservadas.

Pouca gente sabe que em um dos quarteirões mais agitados da região, na intersecção entre Rua Tamóios, Rua da Bahia e Avenida Afonso Pena, bem próximo do Parque Municipal Américo Renée Gianetti e do Viaduto Santa Tereza, estão dois dos prédios mais belos e representativos da história da capital: os edifícios Sulamérica e Sulacap.
Construídas em 1941, as edificações, projetadas pelo arquiteto italiano Roberto Capello, tiveram suas fachadas ocultas por um anexo erguido indevidamente em 1970, infelizmente com o apoio da Câmara Municipal de Belo Horizonte, que autorizou a construção do anexo. Com a obra, a Praça Independência, que existia no vão dos prédios, foi destruída. O anexo, destinado ao uso comercial, além de impedir que as pessoas tenham uma visão da imponência e da beleza das duas torres, também contribuiu para a degradação dos dois imóveis.

Em 2015, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte aprovou o tombamento do Sulacap e do Sulamérica, assegurando a preservação dos dois imóveis. O tombamento também reabriu a discussão sobre a remoção do anexo, devolvendo aos edifícios a sua arquitetura original, inclusive com a reconstrução da Praça Independência.

É com o objetivo de contribuir com esse debate e sugerir alternativas de organização coletiva que viabilizem a requalificação do Sulacap e do Sulamérica e a demolição do anexo que nasce o projeto Janela Aberta. O foco do projeto, criado por arquitetos, professores, urbanista, vereadores e representantes da sociedade civil, é devolver ao Hipercentro suas características de ponto de encontro e convivência da população belo-horizontina.

O Janela Aberta propõe libertar parte da história e da cultura de Belo Horizonte, resgatando o espaço indevidamente ocupado pelo concreto que desfigurou o Sulacap e o Sulamérica. A partir dessa conquista, teremos um polo irradiador de humanização e requalificação do Hipercentro. A experiência bem sucedida de restauração dos prédios será indutora de mais ações da mesma natureza em pontos diversos da cidade.

Em vez de lojas vazias e salas deterioradas pela falta de ocupação e presença humana, teremos de novo a Praça Independência, aberta à diversidade da cultura de BH, em suas mais distintas vertentes, ao encontro de pessoas e à visão privilegiada do eixo urbano formado pela Avenida Afonso Pena, Viaduto Santa Tereza e Parque Municipal.

Todas as etapas desse processo serão construídas de forma democrática, coletiva, sem o uso de recursos públicos. Somos nós, cidadãos e cidadãs de Belo Horizonte, que nos uniremos para restaurar a leveza do olhar sobre nossa cidade. O Janela Aberta tão somente se propõe a ser o espaço digital para que essa ideia cresça, se propague e dê frutos.

Requalificação do
espaço público

Requalificação do espaço público

A requalificação das torres Sulacap/Sulamérica é o embrião de uma ação mais ampla e profunda, que pretende discutir parâmetros para a requalificação do Hipercentro de Belo Horizonte. Essa restauração é urgente, necessária e relevante. A região vive um quadro de deterioração que impacta no bem estar e na qualidade de vida de 1,5 milhão de pessoas que circulam diariamente pela área.

O Janela Aberta traz à luz a proposta de um debate amplo e democrático, para analisar qual seria a melhor destinação para que a requalificação arquitetônica e estrutural dos imóveis seja acompanhada da sua real ocupação, trazendo de volta as pessoas para este espaços.

O uso de alguns desses prédios para moradias, não apenas nos moldes de casas populares, a instalação de empresas de tecnologia de ponta, como as startups, em sistema de coworking ou de cooperativas, são propostas que já foram aventadas na capital. Todavia, isso não impede que os espaços degradados do hipercentro sejam requalificados e ocupados para outras iniciativas.

Infinitas possibilidades

Ao propor a demolição do anexo dos edifícios Sulacap e Sulamérica, construído na década de 1970, e a requalificação do conjunto arquitetônico composto pelas duas edificações, o projeto Janela Aberta leva em conta as inúmeras opções que se oferecem para a ocupação do espaço a ser devolvido à cidade.

Todos os atores envolvidos na defesa do patrimônio cultural, histórico e artístico da cidade, movimentos de rua, coletivos culturais, artesãos e representantes da população em situação de rua estão convidados a participar das discussões que definirão se a Praça Independência será restaurada, após a demolição do anexo, e que tipo de equipamentos urbanos o novo espaço receberá.

As escolas de arquitetura de Belo Horizonte, o Instituto dos Arquitetos do Brasil e demais instituições ligadas ao urbanismo na capital atuarão como consultores nessas discussões, avaliando as propostas para a reocupação do espaço onde hoje está o anexo a ser demolido.

O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte terá tarefa fundamental essas definições, pois os edifícios Sulacap e Sulamérica foram tombados e qualquer intervenção em sua estrutura deve ser aprovada previamente pelo município. Desta forma, as características históricas dos imóveis serão preservadas.

A localização privilegiada do Sulacap e do Sulamérica deve ser potencializada no projeto de requalificação. Hoje, o Viaduto Santa Tereza é local de intensas atividades culturais e manifestações identitárias, e o projeto de restauração do conjunto Sulacap/Sulamérica terá que dar prioridade a tal realidade. O espaço a ser erguido no local onde hoje está o anexo deverá ser incorporado ao conjunto arquitetônico Viaduto Santa Tereza/Praça da Estação, como um imenso boulevard cultural e democrático.